Quando sonhar não resolve mais, o que
fazer? Acreditar nos sonhos sempre me pareceu ser a coisa mais inteligente na busca incessante pela felicidade nossa de cada dia. Mas então, nesse
mundo onde muitos se dizem angustiados e aflitos com o que vem fazendo de suas vidas,
é raro ver, na prática, a entrega.
E sem entrega, não se pode ser inteiro. E
para viver sonhos é preciso estar inteiro, se entregar, deixar o rio te levar
pelas correntes para onde o sonho permitir. E esse impulso anda em falta.
Estamos nos amarrando às margens da vida,
vivendo nas beiradas, onde é seguro, onde tudo é mais brando e controlável.
Longe da correnteza. Às vezes, quando tropeçamos sem querer, deixamos nos levar
um pouquinho... Então, puxamos a corda na primeira eminência do desconhecido,
do não planejado, e voltamos à margem.
E depois sentimos a angústia, o vazio,
buscamos os porquês sem nunca achá-los. Alguns procuram materializar sua
felicidade em coisas e não entendem como nunca preenchem os buracos em seus
estômagos, não sabem de onde vem, de repente, a falta.
Viver às margens é assim mesmo, pode ser
mais fácil na maior parte do tempo. Mas, a coisa do qual somos feitos precisa
mais, precisa navegar sem rumo e, cedo ou tarde, vai cobrar essa jornada, vai
tirar a cor das coisas, sacudir os prumos, apertar o coração e pulverizar
ideias estonteantes e duvidosas que não vão nos permitir ficar parados.
Cedo ou tarde vamos ter que cortar as
amarras e nos jogar de cabeça, flutuar pela correnteza, ficar a deriva. Esperar
que o sonho nos leve em uma viagem incrível, de obstáculos surpreendentes,
tormentas, paisagens, redemoinhos. Que nos mostre o valor real das coisas, que,
pela experiência, nos faça compreender o incompreensível, que nos permita de fato
entender o que é de verdade um porto seguro.
(Exemplos de pessoas que recuaram do salto
bem na beira do abismo me chegam aos ouvidos diariamente, e isso me fez
refletir. Escrever tem sido minha principal terapia. Redescobri-me nas linhas e
isso tem sido reconfortante. Primeiro porque acalma a alma, segundo, porque me
faz feliz ler as produções depois, e mais feliz ainda de saber que ajudo também
a desvendar corações amigos. É bom saber
que não sofremos sozinhos, que a angústia do outro pode ser a sua e que as conversas
não precisam ser feitas apenas em mesas de bar.)
Os nossos papos perolados me animaram mto... a cada entrega estamos nos moldando, sendo lapidadas, e brilhando mais!
ResponderExcluirJá temos amigos assim entregues e verdadeiros... uma hora teremos relacionamentos, é só não desistirmos e não nos resignarmos a aceitar esses vazios como parte de nós!