sábado, 12 de novembro de 2011

Se joga!



Quando sonhar não resolve mais, o que fazer? Acreditar nos sonhos sempre me pareceu ser a coisa mais inteligente na busca incessante pela felicidade nossa de cada dia. Mas então, nesse mundo onde muitos se dizem angustiados e aflitos com o que vem fazendo de suas vidas, é raro ver, na prática, a entrega. 

E sem entrega, não se pode ser inteiro. E para viver sonhos é preciso estar inteiro, se entregar, deixar o rio te levar pelas correntes para onde o sonho permitir. E esse impulso anda em falta.

Estamos nos amarrando às margens da vida, vivendo nas beiradas, onde é seguro, onde tudo é mais brando e controlável. Longe da correnteza. Às vezes, quando tropeçamos sem querer, deixamos nos levar um pouquinho... Então, puxamos a corda na primeira eminência do desconhecido, do não planejado, e voltamos à margem.

E depois sentimos a angústia, o vazio, buscamos os porquês sem nunca achá-los. Alguns procuram materializar sua felicidade em coisas e não entendem como nunca preenchem os buracos em seus estômagos, não sabem de onde vem, de repente, a falta.

Viver às margens é assim mesmo, pode ser mais fácil na maior parte do tempo. Mas, a coisa do qual somos feitos precisa mais, precisa navegar sem rumo e, cedo ou tarde, vai cobrar essa jornada, vai tirar a cor das coisas, sacudir os prumos, apertar o coração e pulverizar ideias estonteantes e duvidosas que não vão nos permitir ficar parados. 

Cedo ou tarde vamos ter que cortar as amarras e nos jogar de cabeça, flutuar pela correnteza, ficar a deriva. Esperar que o sonho nos leve em uma viagem incrível, de obstáculos surpreendentes, tormentas, paisagens, redemoinhos. Que nos mostre o valor real das coisas, que, pela experiência, nos faça compreender o incompreensível, que nos permita de fato entender o que é de verdade um porto seguro.

(Exemplos de pessoas que recuaram do salto bem na beira do abismo me chegam aos ouvidos diariamente, e isso me fez refletir. Escrever tem sido minha principal terapia. Redescobri-me nas linhas e isso tem sido reconfortante. Primeiro porque acalma a alma, segundo, porque me faz feliz ler as produções depois, e mais feliz ainda de saber que ajudo também a desvendar corações amigos. É bom saber que não sofremos sozinhos, que a angústia do outro pode ser a sua e que as conversas não precisam ser feitas apenas em mesas de bar.)

Um comentário:

  1. Os nossos papos perolados me animaram mto... a cada entrega estamos nos moldando, sendo lapidadas, e brilhando mais!
    Já temos amigos assim entregues e verdadeiros... uma hora teremos relacionamentos, é só não desistirmos e não nos resignarmos a aceitar esses vazios como parte de nós!

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